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segunda-feira, 3 de maio de 2010

O Trabalho, de Khalil Gibran (atrasado do dia primeiro...)

Vós trabalhais a fim de acompanhardes o ritmo da terra e de sua alma.

Pois, ao permanecerdes ociosos, vós vos converteis em estranhos dentro das estações, e desviai-vos da procissão da Vida, a qual marcha com excelência e altivez rumo ao infinito.

Quando trabalhais, vós sois uma flauta; por meio de cujo coração o sussurro das horas transforma-se em música.

Quem dentre vós gostaríeis de ser um bambu, embotado e sem som, quando todos mais cantam juntos em uníssono?

Sempre vos disseram que o trabalho é uma maldição, e o labor um infortúnio.

Mas eu vos digo que quando trabalhais, vós realizais uma porção do sonho derradeiro da Vida, a qual vos foi incumbida quando este sonho nasceu,

E ao ocuparde-vos com o labor, estais de fato amando a Vida,

E amar a Vida através do Trabalho é familiarizar-se com seu segredo mais íntimo.

Porém, se em vosso sofrimento chamardes ao nascimento uma aflição, e ao suporte de vossa carne uma maldição inscrita em vossa fronte, então eu vos digo que o suor de vossa fronte apagará o que está inscrito.

Foi-vos dito também que a Vida é feita de trevas, e em vossa fadiga vós repetis o que vos foi dito pelos fatigados.

E eu vos digo que a Vida de fato é feita de trevas,

salvo quando há Vontade,

E toda Vontade é irracional,

salvo quando há Sabedoria,

E toda Sabedoria é vã,

salvo quando há Trabalho,

E todo Trabalho é vazio,

salvo quando há Amor;

E quando vós trabalhais com Amor, vós vos ligais a vós mesmos, e uns aos outros, e a Deus.

E o que é trabalhar com Amor?

É tecerdes a roupa com fios extraídos de vosso Coração,

como se a pessoa amada fosse usá-la.

É construirdes uma casa com afeição,

como se a pessoa amada fosse ali habitar.

É plantardes as sementes com ternura e regardes a colheita com alegria,

como se a pessoa amada fosse colher dos frutos.

É infundirdes em tudo que fazeis um alento de vosso próprio espírito.

Com freqüência tenho vos ouvido dizer, como se falásseis dormindo....” aquele que torneia o mármore e encontra a forma de sua própria alma na pedra, é homem mais nobre do que aquele que lavra o solo...”

...e aquele que apreende o arco-íris, a fim de estampá-lo sobre um tecido com as formas do homem, é melhor do que aquele que faz as sandálias para nossos pés...”

Mas eu vos digo, não em sono, mas na plena vigilância do meio-dia, que o Vento não fala mais amavelmente ao gigantesco carvalho do que a mais ínfima folha de relva;

E é dileto apenas aquele que, por meio do seu próprio Amor, transforma a voz do Vento em uma Canção ainda mais amável.


O Trabalho é o Amor feito visível.


E se vós sois incapazes de trabalhar com Amor, e só o fazeis com desgosto, é melhor que abandoneis vosso Trabalho e sentai-vos à entrada do Templo, pedindo esmolas àqueles que trabalham com Alegria.

Pois, se vós assais o Pão com indiferença,

vós assais um pão amargo, que saciará apenas metade da fome do homem.

E se vós espremeis as uvas com má vontade,

vossa má vontade destila um veneno no Vinho.

E se vós cantais como os Anjos, e não amais vosso Cantar,

vós tapais os ouvidos do Homem para as vozes do Dia e para as vozes da Noite.

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