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quinta-feira, 6 de março de 2008

Baraka, a unidade na diversidade

Um filme-poema. Uma manifesto visual-auditivo.
Um conto de fadas cuja lição de moral embutida é: mesmo sendo vários, múltiplos e plurais, no fundo somos um só povo.
É tarefa árdua rotular este filme, dirigido por Ron Fricke, em 1992.

Sem nenhuma narração ou diálogo, a não ser o do casamento extremamente harmonioso das imagens com a trilha sonora.
O diretor usa e abusa dos contrastes de ritmos, situações e climas.
Momentos de fé religiosa e celebração se contrapondo a outros de pobreza e abandono.
Momentos de silêncio e olhares contemplativos intercalados com o frenesi, o barulho e a aglomeração urbana desenfreada.

O filme pulsa.

Uma das mensagens é que tudo está em movimento.

A natureza, em seus mais variados aspectos.
As fases da lua. O amanhecer e o anoitecer. Chuva. Trovões. As nuvens que caminham no céu nos lembrando as espumas das cachoeiras incansáveis.
As ondas do mar.
E os movimentos do Homem.
Dirigindo seus carros em trânsitos caóticos, trabalhando em condições desfavoráveis, seja em uma fábrica ou na rua, rezando, dançando, indo e vindo, às vezes sem direção.

Luz e sombra caminhando juntas, mostrando grandes realizações do Homem, como as pirâmides e esfinges do Egito, o grande exército chinês feito de barro, e, ao mesmo tempo, a fumaça preta dos campos de petróleo incendiados no Kwait e as gélidas imagens de ossos e crânios amontoados num campo de concentração.

Entre as mais discrepantes sensações que podemos sentir ao assistir “Baraka”, um fio condutor invisível parece nos levar a outra mensagem: de que tudo é uma coisa só ou de que todos somos um só.
De que há muito mais semelhanças (de sentimentos, de atitudes) do que as diferenças de cenário ou de língua podem nos fazer supor.
Todos rezamos pelo Deus em que acreditamos, dançamos, cantamos, nos vestimos, nos enfeitamos, nos pintamos, casamos, criamos filhos, sofremos, celebramos, lutamos pela sobrevivência, enfim.

Assim como os pássaros mostrados em várias regiões.
Não são os mesmos pássaros.
Suas asas, cores, bicos e penas são distintos.
Distinções essas, que não os livram de serem...pássaros!