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domingo, 18 de março de 2012

Evolução da Lua

A animação “Evolution of the Moon” (Evolução da Lua, em português) mostra os 4,5 bilhões de anos da Lua, desde que ela se formou até chegar ao que a gente vê hoje - tudo em apenas 2 minutos e 42 segundos.


Cada um corre do jeito que pode (Rubem Alves)


Havia crianças com Síndrome de Down. E todas elas trabalhavam com a mesma concentração que as outras crianças. Pareciam-me integradas nas tarefas escolares, como as crianças ditas “normais”. Perguntei ao diretor sobre o segredo daquele milagre. Ele me deu uma resposta curiosa. Não me citou teorias psicológicas sobre o assunto. Sugeriu-me ler um incidente do livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Fazia muitos anos que eu lera aquele livro. E eu o lera como literatura do absurdo, coisa para crianças.
Alice, seduzida por um coelho que carregava um relógio, seguiu-o dentro de um buraco que, sem que ela disso suspeitasse, era a entrada de um mundo fantástico. De repente, ela se viu dentro de um mundo completamente desconhecido e maluco, com o chapeleiro e o gato que ria.
No incidente que nos interessa, encontramos Alice e seus amigos completamente molhados haviam caído dentro de um tanque. Agora, tinham um problema comum a resolver: ficar secos. O que fazer?
A turma da Alice, que era formado pelo pássaro Dodô –esse pássaro existiu de verdade, mas foi extinto–, um rato, um caranguejo, uma marmota, um pombo, uma coruja, uma arara, um pato, um macaco, todos diferentes, cada um do jeito como seu corpo determinava, todos eles pensando numa coisa só: o que fazer para ficar secos.
O pássaro Dodô sugeriu uma corrida. Correndo o corpo esquenta e fica seco. Mas Alice queria saber das regras. O pássaro Dodô explicou:
“Primeiro marca-se o caminho da corrida, num tipo de círculo (a forma exata não tem importância), e então os participantes são todos colocados em lugares diferentes, ao longo do caminho, aqui e ali. Não tem nada de ‘um, dois, três, já’. Eles começam a correr quando lhes apetece e abandonam a corrida quando querem, o que torna difícil dizer quando a corrida termina.”
Notem a desordem: um círculo de forma inexata, os participantes são colocados em lugares diferentes, aqui e ali, e não tem “um, dois, três, já”, começam a correr quando lhes apetece e abandonam a corrida quando querem.
Assim, a corrida começou. Cada um corria do jeito que sabia: pra frente, pra trás, pros lados, aos pulinhos, em zigue-zague… Depois que haviam corrido por mais ou menos meia hora, o pássaro Dodô gritou: “A corrida terminou!” Todos se reuniram ao redor do Dodô e perguntaram: “Quem ganhou?”. “Todos ganharam”, disse Dodô. “E todos devem ganhar prêmios.”
Acho que o Lewis Carroll estava expondo, de forma humorística, as suas ideias para a reforma dos currículos da Universidade de Oxford, ideias estas que ele não tinha coragem de tornar públicas, por medo de perder seu lugar de professor de matemática.
“Curriculum”, no latim, quer dizer “corrida”, “lugar onde se corre”. Uma corrida, para fazer sentido, tem de ser entre iguais, não faz sentido pôr araras, ratos e caranguejos correndo juntos. Não faz sentido colocar os “diferentes” para correr junto com os “iguais” Aquilo a que se dá o nome de integração em nossas escolas é colocar os “portadores de deficiência” correndo a mesma corrida dos chamados de “normais”. Nessa corrida, os “deficientes” estão condenados a perder. A corrida do pássaro Dodô é diferente: cada um corre do jeito que sabe e pode, todos ganham e todos recebem prêmios…

Leão de Asas (Eu mesmo, aos 19 anos)



O sol se esvanece no seu íntimo noturno
Seus lábios são as nuvens de um céu material
Seus beijos em aspas me tornam infiel ao sabor do vinho
O vinho derramado no chão


Deitada tua alma nua
Amando o meu corpo físico
Uma lágrima simples chorando
No espaço ao redor de um círculo

Numa pira a tocha se inflama
Erupção queimando a certeza
O cio valente de um poder escasso
Aço rente ao rio sem cor
Como o descanso de uma reação espontânea...

Um grito de agonia e tiros
A benção de um recém nascido
O olhar de um cachorro triste
Alpiste... pra um Leão de Asas

Num cenário de nomes vazios e ruínas belas
Nosso gozo mútuo nos ressuscita
Meu sêmen em ti, nos imortaliza

Sou o astro-rei do seu íntimo amanhecido
Sou habitante do teu olhar narcisista
Me apresento no seu desejo de me ter

Em que direção você voa?
Em que direção você voa?

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Da jornalista Eliane Brum (Programa Provocações Tv Cultura):


"Um dia eu conheci o Wanderley, que é um cara que todo ano vai para uma Feira Agropecuária no Rio Grande do Sul, levando um cabo de vassoura, jurando que o cabo de vassoura é o seu cavalo de raça.

Ele é conhecido como o “louquinho” dessa Exposição.

Um dia eu emparelhei o meu cavalo com “o dele” e perguntei:

- Wanderley, você é louco?

O Wanderley olhou para mim...como se eu fosse a louca.

Ele disse:

- Tú acha que eu não sei que o meu cavalo é um cabo de vassoura?

Mas tu não acha que é muito melhor eu acreditar que o meu cabo de vassoura é um cavalo, já que eu jamais vou ter um cavalo?

Aí eu aprendi com o Wanderley, o que é a Vida.

Acho que na Vida, todos nós temos um cabo de vassoura e queremos ter um cavalo de raça. A Vida é essa travessia, entre o cabo de vassoura, que é o que efetivamente temos, e o cavalo de raça que a gente busca e nunca alcança..."