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terça-feira, 30 de setembro de 2008

Muitíssimo Prazer, Nélson Rodrigues

“O óbvio ululante” é um livro que reúne crônicas escritas por Nélson Rodrigues, entre os anos de 1967 e 1968, publicadas no jornal O Globo.

Exceção feita ao filme “Os sete gatinhos”, que assisti no início da adolescência, ou seja, com olhos demasiadamente púberes para poder ver algo além da sensualidade cativante da Lucélia Santos, não conhecia nada do referido autor.

Confesso que havia comprado este estigma pejorativo incutido em algumas camadas da mídia, de relegar seu trabalho a uma prateleira de pornografia – que acredito nada tenha a ver com sua auto-definição, mesclada de contraste e complexidade, de ser um anjo pornográfico.

Céus, que engano!

Minha ignorância encoberta pela vergonha (assunto bem “rodrigueano” hein?) quis até me impedir de escrever.
Mas inspirado por seu texto, resolvi não ter vergonha de mostrar minha imbecilidade, assim quem não sabe não descubro um gênio...

As crônicas que li, são, ululantemente, geniais.

Uma visão terrivelmente sagaz das agruras da personalidade humana, como se Nélson enxergasse a todos por detrás das máscaras de civilizados, de bonzinhos, de arautos de um comportamento tão idealizado quanto longínquo de ser alcançado.

E tudo, com humor, muito humor.

Às vezes, cínico humor, que reconhecemos e nos faz rir de olhos fechados; rir no nosso escuro, com o semblante pego em flagrante, como se estivesse olhando pelo buraco da fechadura de uma castidade irreal, uma vez que fruto da repressão e não da sublimação dos instintos.

Ah, pelo pouco que foi lido, óbvio ululante que não posso dizer que conheço sua obra.
Mas já é possível, pelo menos, trocá-la de prateleira.
Acho que daria um bom papo com Freud, talvez.

O óbvio ululante — Primeiras confissões, "Companhia das Letras", São Paulo, 1993. Seleção: Ruy Castro

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